Os
passeios públicos de Belo Horizonte.
A má qualidade das calçadas em Belo Horizonte não é novidade para o
cidadão belohorizontino. Em verdade esta situação é partilhada não somente pelo
cidadão da capital mineira como de toda região metropolitana e de todas as
cidades brasileiras.
Capa de jornais da última segunda feira, as calçadas de Belo Horizonte
tem sido objeto de centenas de multas aos proprietários de imóveis na capital.
Segundo o código de postura da capital http://bit.ly/b9VrGR cabe ao proprietário
a construção, manutenção e conservação dos passeios públicos.
Ao executivo cabe a reconstrução ou conserto de passeios nos casos de
alteração de nivelamento, redução ou estrago ocasionado por preposto seu ou por
arborização. A construção de passeio pelo executivo se dá quando o proprietário
não o faz, no entanto a cobrança será efetuada posteriormente. E, diga-se de
passagem, quantas reconstruções mal feitas temos visto em nossa cidade.
O código de postura define o tipo de revestimento que deve ser aplicado
em cada passeio, bem como o rebaixamento de meio fio, sempre prezando pela
comodidade do transeunte.
O código de posturas é uma incógnita para o cidadão comum que,
infelizmente, é penalizado por desconhecer suas normas. O Código Civil reza que
ninguém pode alegar o desconhecimento da lei, o que é uma ficção jurídica. Este
princípio existe para que se garanta um mínimo de estabilidade jurídica e
social, no entanto não é esta realidade que vivemos, pois tão logo uma lei é
publicada pelos órgãos oficiais somos duramente cobrados e penalizados. O ideal
é que não tivéssemos cérebro e sim um “banco de dados” em que tudo seria
armazenado e teríamos não somente a onisciência, mas estaríamos sempre on
line.
Além da publicação da Lei 9.845/2010, a prefeitura disponibilizou uma
Cartilha Código de Postura de Belo Horizonte http://bit.ly/rVbhQ9 em
seu sítio, todavia a iniciativa foi tímida e pouco eficaz, pois nem todos tem
acesso à rede de computadores e os que tem não passam seu tempo pesquisando
sobre leis nas páginas oficiais de governos, desta forma o cidadão não teve
acesso à mesma, não foi distribuída nas regionais ou as Lideranças comunitárias
e comerciantes não foram informados de seu conteúdo. Para ser eficaz e produzir
os efeitos desejados os interessados deveriam ter sido informados de maneira
mais contundente.
O cidadão constrói seus passeios sem o menor conhecimento de como
fazê-lo já que o executivo não se preocupa em informá-lo da forma correta de
executar a obra. Para dizer a verdade o cidadão comum sequer sabe que existe
norma para construção de sua casa, quem dirá passeios, muros e colocação de
lixeiras.
O executivo, além de promover palestras para informar o cidadão sobre a
sua adequação ao código de posturas, poderia dar cursos para os profissionais
que constroem nossas casas e passeios, como pedreiros, mestres de obra e
serventes, pois eles são os melhores agentes para propagar a existência de
normas desta natureza. Outra forma de divulgar a norma e a forma de como fazer
é utilizar os espaços das contas de água, luz, telefone e o próprio IPTU para
mostrar como construir passeios, com ilustrações educativas e de
orientações.
No entanto o que percebemos é que nem mesmo o poder público tem
conhecimento de suas normas, quantas e quantas vezes nos deparamos com
equipamentos públicos instalados de forma irregular. As sinalizações verticais,
placas instaladas pela BHTRANS no meio dos passeios dificultam ou
impossibilitam a passagem de carrinhos de bebês, cadeirantes e deficientes
visuais. Estes exemplos são observados em diversos pontos de nossa cidade.
Você, caro leitor, já pensou como construir o seu passeio sem prejudicar
quem caminha por ele? Como fazê-lo de forma regular se o lote do seu vizinho é
mais baixo ou muito mais alto que o seu? Gostaria de colocar um belo jardim
para que todos vejam o seu bom gosto?
O comerciante, após construir um charmoso passeio, pensa em instalar
engenhos de publicidade, utilizar o seu espaço para divulgar o comércio,
colocar cadeiras e mesas, ou, ainda, instalar toldo para dar melhor atendimento
a seu cliente tem a obrigação de antes solicitar autorização do poder público
municipal. Sem a garantia de ser atendido.
Vamos entrar numa seara mais abrasiva neste momento. O que temos
percebido é que o meu ou o seu passeio na verdade não são nem seu
nem meu, é nosso, é público! Se o passeio é público, com regras claras e
objetivas por que não cabe ao Poder Público sua construção, manutenção e
conservação?
Para toda e qualquer intervenção na coisa pública temos que solicitar
autorização e não é diferente com nossos passeios. Se uma árvore é plantada no
passeio em frente à sua casa quem irá podar, transplantar ou suprimir é o
Executivo, neste caso não está em jogo a questão de preservação da natureza,
mas o espaço que não lhe pertence enquanto indivíduo, porque é um espaço
público e cuidar da coisa pública é tarefa de governo.
A PBH está com o projeto BH Nota 10 em que o
proprietário de imóvel na capital poderá ter desconto de até trinta por cento
no valor de seu IPTU se contratar serviço em Belo Horizonte e a empresa emitir
a nota Fiscal Eletrônica de Serviços. A medida, longe de ser de cunho
educativo, visa aumentar a arrecadação de ISSQN aos cofres do município. A
cidadania será testada, conquistada e ampliada na medida em que se mexe no
bolso do contribuinte belo-horizontino.
A exemplo deste projeto a PBH deveria incentivar o cidadão a construir
passeios, sob orientação técnica, e dar abatimento no valor de seu IPTU. O
desconto deverá ser cem por cento do valor do imposto devido ou até o limite
dos gastos do cidadão com a construção do equipamento público.
Atualmente fala-se à exaustão de mobilidade urbana, todavia a
acessibilidade não é mencionada na mesma proporção, embora a expressão traga em
seu bojo o sentido de atender à toda população em suas distintas necessidades,
mas é o preferível pecar por excesso, já que para muitos mobilidade urbana é
dar vazão e agilidade aos carros.
Foi pensando nesta mobilidade que a Prefeitura de Belo Horizonte deu
início à revitalização da Savassi no projeto Centro Vivo http://bit.ly/tVATHp , calçadas serão
construídas, passeios e faixas de pedestres darão mais acessibilidade e
qualidade de vida às pessoas que transitam pelo local.
Temos que pensar a cidade como um todo e proporcionar a mesma qualidade
de vida a todo cidadão de Belo Horizonte, com mobilidade, acessibilidade,
respeito e qualidade de vida. É possível ter uma cidade acessível e regular,
sem ter que penalizar o cidadão com notificações, autuações e multas.
Nossos Vereadores juntamente com o Executivo podem modificar o Código de
Postura de Belo Horizonte e transferir, senão a responsabilidade, pelo menos o
ônus da construção de calçadas para o Poder Público. Com certeza será um custo
financeiro para a Prefeitura, quanto a isto não temos dúvidas, mas o benefício,
a qualidade de vida e o exemplo de administração pública serão parâmetros para
todas as capitais brasileiras.
Podemos motivar nossa população a colocar em discussão esta realidade nossa de cada dia, enviar e-mails para nossos Vereadores e para o Executivo para que se coloque em pauta a qualidade de nossas calçadas e passeios, sem penalizar a população de Belo Horizonte.
Rômulo Venades
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