OCUPAÇAO ELIANA SILVA,
PRESENTE!
Eu ia escrever um artigo relatando
o que ocorreu na desocupação Eliana Silva, a partir do olhar de quem esteve la
desde as 4 horas da manha. O belíssimo artigo do Frei Gilvander
abaixo, me satisfaz plenamente. Assim, escrevo algo mais pessoal.
Provavelmente, vocês nunca viram
350 famílias lutarem pelo direito mínimo de um ser humano: ter onde morar. A
ausência deste direito retira nossa dignidade, nossa referência, nosso chão.
Sem isto, sem endereço não se encontra trabalho. Não se consegue
identidade. Não existe. Em apenas 21 dias de ocupação, vivenciamos a mudança de
comportamento das pessoas: solidárias, seguras de seus direitos, constroem um
coletivo. Sentiam-se como GENTE com direitos e deveres. São estas pequenas
vitorias que mostram como o povo trabalhador ao conseguir pela luta seus
direitos, se transformam. Não ficam esperando doações de caridade ou do Estado.
A maioria das famílias ficou anos na fila de programas de moradia. Agora já
sabem que um país que dedica 45% de seu orçamento para pagar o sistema
financeiro e apenas 2,9% para educação, 3,9% saúde (dados de 2010), não é um país
sério.
E, de outro lado, estamos vendo o
Brasil se transformar na 6ª economia do mundo. E, divulgar que tem um dos
homens mais rico do mundo que, a partir de 2011mais cinco homens brasileiros
passam a compor o rol dos 500 mais ricos do mundo. Não é preciso ir longe para
ver mansões, carros luxuosos com motoristas. Este seguramente, não é o país de
nossos sonhos.
E, fico com uma tristeza
imensa quando vejo a maior parte dos antigos companheiros de luta, que
acreditavam em um mundo diferente, assumirem a ordem capitalista,
destruindo o que estas famílias construíram, jogando-as nas ruas. Esquecem suas
historias quando nos anos 60, 70, 80 e 90 faziam estas mesmas lutas. Esquece-se
que vários petistas atuais, moram em ocupações conquistadas naquela época. A
tristeza de ver do outro lado da barricada, bancando a inflexibilidade do
estado, apoiando as forças policiais pessoas que já acreditaram no movimento
social.
Outra questão chocante, é a noticia
de que não houve violência. O que é a violência? É a morte, a lesão física?
Eu vi violências inimagináveis.
Depois de ter convivido com estas famílias durante o período de construção dos
barracos, vi como se desenvolvia ali novas relações embasada pela
solidariedade. Vivenciamos o desenvolvimento de uma comunidade. Isto é que
foi destruído. Esta é uma violência inimaginável.
Mas, vi outras violências: um casal
de 79 anos que tinha ali colocado sua esperança de ter uma casinha sua, sendo
colocado ao relento. Várias jovens mães, com bebes no colo, enfrentando a
policia. Vi uma mulher que indignada quando levaram o botijão e o fogão da
cozinha coletiva, correu atrás e tomou o botijão e, só não foi espancada mais
porque todos entraram no meio. Vi os apoiadores da comunidade Camilo Torres e
de outros movimentos sociais, fazerem uma manifestação e serem agredidos,
recebendo spray de pimenta nos olhos atingindo inclusive varias crianças
que estavam pertos.
A violência de ficar durante todo
um dia e a noite, cercada por todos os lados com a polícia a cavalo, batalhão
de choque, Gate (Grupamento de ações táticas especiais), helicóptero equipado
para a ação e dando vôos razantes. Cercaram toda a comunidade. Não podia entrar
nem sair. Assim, até o direito burguês de ir e vir, foi cerceado. Foi
procurando valer este direito que vivenciei dois atos de violência física.
O primeiro, em torno de 9horas
quando o companheiro pataxó Jean Carlos Pereira e eu retornávamos à Comunidade
Eliana Silva, de onde tínhamos saído às 7 horas da manha e onde era o nosso
lugar. Ao insistirmos em entrar algemaram e prenderam o índio Jean. Como eu
estava junto, entrei no meio e perguntei por que o prendiam. Resposta: desacato
a autoridade. Mas, era a mesma situação minha? Entrei na frente, tomei os dados
do Jean, argumentei, mas, o levaram. Prisão provocada pela discriminação: índio,
negro e pobre neste pais não tem vez.
O segundo, quando dezenas de
apoiadores que estavam de fora, resolveram buscar um caminho alternativo para
entrar na comunidade. A polícia percebeu o movimento, foi e barrou. Porem,
4 de nos conseguimos passar. Ao chegarmos por trás, os policiais que
estavam dentro da comunidade, nos cercaram. Como insistíamos em ficar, 2
policiais me jogaram no chão, subiram em cima de mim, forçando minha cabeça no chão
e com as mãos para trás, para colocar a algema. Imediatamente, todos que
estavam lá, incluindo os advogados, parlamentares e o Frei Gilvander entraram e
conseguiram me resgatar. Fiquei com o corpo todo doendo, com os braços
arranhados, a roupa imunda e os óculos quebrados.
ISTO TUDO NAO É VIOLENCIA?
Mais
do que nunca precisamos fortalecer a rede de solidariedade, pois derrubaram as
barracas, mas não retiraram a vontade de luta. As pessoas permanecem no
local.
TODO APOIO AO MLB, MOVIMENTO
QUE COORDENA A OCUPAÇAO
VIVA
A LUTA DO POVO QUE RESISTE!!!
VIVA
A OCUPAÇÃO ELIANA SILVA!!!
Maria Dirlene Trindade Marques
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela sua visita e seu comentário!